26.NOV.2017

Neurologia Vascular

Vamos falar sobre neurologia! Não?! Então vamos falar de cinema....

 

    Quem não gosta de uma boa história? Uma história bem contada te mergulha num mundo novo. Frequentemente os documentários são grandes fontes de histórias... histórias reais. Agora, imaginem as histórias contadas por um paciente vítima de acidente vascular cerebral. Suas novas sensações e percepções do mundo... É o que encontramos no documentário da Netfix My Beautiful Broken Brain.


 
    Lotje é uma inglesa de 34 anos, uma produtora de vídeos, cheia de amigos e com uma vida bem ativa. Subitamente sua trajetória é tocada por um AVC hemorrágico. Entre outras consequências o AVC de Lotje compromete as regiões do cérebro responsáveis pela percepção visual e linguagem. A protagonista tem então uma variedade de novas sensações – uma nova dimensão – como ela mesmo descreve. Isso vem bem a calhar com as habilidades como produtora de vídeo. De forma leve e positiva, ela começa a filmar sura rotina e o resultado é um documentário interessante na qual sua história é transformada em vídeo e com auxílio de efeitos especiais fazem com que o espectador compreenda as dificuldades de linguagem (afasia), as impressões visuais (hemianopsia) e até crises epilépticas do lobo occiptal, por aí vai... Um olhar diferente sobre o tema.
 
 

Um olhar diferente
   
    O ponto de vista da pessoa acometida por um AVC também é retratada em um outro filme clássico: O Escafandro e a Borboleta. Um drama de 2007, o filme é baseado no livro de mesmo nome (Le Scaphandre et le Papillon, no original em francês) e foi escrito pelo protagonista Jean-Dominique Bauby. Jean-Dominique tinha 43 anos e era editor da revista Elle quando foi vítima de um acidente vascular cerebral. Após um período em coma, Jean acorda preso em um cativeiro muito peculiar – seu próprio corpo. Como assim?! O AVC sofrido por Jean comprometeu uma região muito estratégica do sistema nervoso, responsável pelo controle dos movimentos corporais. Como consequência, esse raro distúrbio neurológico deixou como incapacidade a paralisia de todos os movimentos do corpo, exceto o controle do olhar. Apesar da grave limitação, com a consciência e faculdades mentais totalmente preservadas, o autor foi capaz de dar vazão a toda sua criatividade escrevendo um livro soletrando letra por letra apenas com movimentos oculares. Com várias cenas em primeira pessoa, do ponto de vista de Jean, o filme provoca reflexão e transmite as rotinas e desafios do processo de reabilitação. Em especial uma questão ainda não facilmente acessível a grande maioria dos pacientes com limitações semelhantes, os métodos de comunicação alternativa.

Na saúde e na doença

    Para o próprio paciente é um desafio enorme, mas o súbito impacto de um evento cerebrovascular na vida dos familiares também não é pequeno. Amour é uma produção francesa vencedora do Oscar de melhor filme estrangeiro de 2013 que conta exatamente essa história. Um casal de professores de música já idosos vivem sozinhos em Paris, com filha criada já fora de casa, vivem uma vida tranquila até que um deles sofre um AVC. Com um grau de incapacidade elevado, o filme conta como o outro cônjuge tenta seguir com a nova normalidade, com os novos desafios e até onde pode ir ou fazer por amor.



    Com pesquisas apontando que em 2050 o Brasil conte com 22,7% da população de idosos e já em 2030  com uma população de idosos de mesmo tamanho que a população de jovens, o tema do filme é extremamente atual. Como se preparar para uma condição social cada vez mais frequente: os desafios dos idosos que moram sozinhos?

 

Ops... acabei falando sobre neurologia...

 

Autor

Dr. Gabriel Pereira Braga

O Dr. Gabriel Pereira Braga é consultor em Neurologia Vascular do Neurodrops. É graduado em Medicina e fez residência médica em Clínica Médica pela Universidade Estadual de Londrina (UEL). Fez residência em Neurologia e Doutorado pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – UNESP, onde foi Responsável Técnico e Coordenador da Unidade de AVC por 5 anos. Atualmente, é neurologista assistente e responsável pelo Ambulatório de Neurovascular do Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), e atende no AVCCENTER Neurologia. É Membro Titular da Academia Brasileira de Neurologia (ABN), e vice-coordenador do Departamento Científico de Neurossonologia da ABN.

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