29.OUT.2017

Medicina do Sono

A curiosidade não tem limites... Nem a Zueira!

Uma das características definidoras do ser humano é a curiosidade. Uma zebra muito curiosa não demora em ser encontrada por um leão, mas a curiosidade humana sempre revelou novos horizontes do conhecimento e damos um nome a esse conhecimento: Ciência. Dos confins do cosmos até o espaço sub-atômico, nossa curiosidade revelou muitos segredos do universo e nos ajudou a manipular melhor o nosso ambiente. Pode-se dizer que cada nova descoberta gera novas perguntas e assim se mantém um ciclo de curiosidade perpétua. Para agraciar as melhores descobertas da ciência existe desde o início do século 20 o prêmio Nobel. E para zuar as descobertas mais insanas, existe desde 1991 o prêmio IgNobel.

Neste ano de 2017 o ganhador do prêmio IgNobel da Paz foi um grupo de pesquisadores da Suíça por terem publicado em 2005 no British Medical Journal um pequeno estudo sobre a capacidade do uso de um instrumento musical para o tratamento da Apneia do Sono (SAOS). Até aí já seria uma notícia muito interessante, mas fica ainda melhor! O instrumento foi utilizado: o Didgeridoo, um instrumento de sopro desenvolvido pelos indígenas que habitam o norte da Austrália, os aborígenes. Segue o link: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1360393/.

Tenho que concordar que o tratamento do ronco é merecedor de um prêmio da Paz (domiciliar). Provavelmente os colegas pesquisadores tentaram demonstrar que o exercício da musculatura orofaríngea diminuiria os roncos e o índice de apneia dos pacientes analisados; e conseguiram se consideramos os resultados do estudo como válido. Aos 16:30 min deste vídeo você pode conferir a entrega do prêmio: http://www.youtube.com/watch? v=yNwLfRpNHhI

A Apneia do Sono típica é consequência de um transtorno congênito (a pessoa nasce com ele), uma formação errônea do terço inferior da cabeça, desde o controle neural central até a formação da mandíbula e dos músculos para trás da língua (faringe). Tal formação predispõe a paradas respiratórias durante o sono e a turbulência na passagem do ar (ronco), levando a pessoa a acordar muitas e muitas vezes por hora (por vezes mais de 30 vezes por hora), detonando o sono e acabando com o descanso do paciente.

Relacionado ao período noturno o paciente frequentemente se queixa de roncos, paradas respiratórias testemunhadas e até insônia. Já quando acordado, o paciente pode se queixar de sintomas como sensação de sono não reparador (sensação que não dormiu nada), dor de cabeça matinal, sonolência diurna excessiva, fadiga, falta de concentração, ansiedade/depressão, disfunção sexual, refluxo gastroesofágico e hipertensão.

O pilar do tratamento para a SAOS atualmente é o uso noturno do aparelho de CPAP (Continuous positive airway pressure) calibrado para cada indivíduo. Há mais de 20 anos sabe-se que a aderência dos pacientes ao tratamento não é tão boa; aliás, é péssima. Muitos outros tratamentos já forama propostos variando de diferentes tipos de cirurgia (a maioria delas com melhora do ronco mas sem resolução da Apneia) até o uso de aparelho intra-oral (AIO) calibrado para a boca do paciente, dentre outros. O desespero dos pesquisadores e médicos da área leva a este tipo de pesquisa: “o uso do Didgeridoo para tratamento da apneia do sono” e em parte pode-se botar a culpa no desespero, mas eu gosto de pensar talvez parte da culpa (ou da glória) seja da natureza curiosa humana. A zueira e a curiosidade não tem limites!

Quem quiser conhecer melhor o IgNobel, deve tentar o link abaixo:
http://www.improbable.com/ig/

E quem quiser mais informações sobre a Síndrome da Apnéia do Sono segue o link: www.nhlbi.nih.gov/health/health-topics/topics/sleepapnea/ 

Autor

Dr. Breno José Hulle Pereira

Dr. Breno José Hülle Pereira é consultor em Medicina do Sono do Neurodrops. Possui graduação em Medicina pela Universidade Federal do Espírito Santo e fez residência médica em Neurologia pela Faculdade de Medicina de Botucatu da UNESP. Concluiu o mestrado em Medicina do Sono pelo programa de Bases Gerais da Cirurgia da FMB-UNESP em 2016. Atualmente atende na UNISSONO em Vitória - ES. Trabalha e pesquisa nos campos de Neurologia, Medicina do Sono, Polissonografia e Fibromialgia.

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