26.NOV.2017

Estudos publicados!

Um novo amanhecer: Como a inovação tem mudado o tratamento do AVC isquêmico.

 

    Evolução. A única certeza que temos é que as coisas vão mudar. A novidade, ou mais tecnicamente falando, a inovação acontece de duas formas. De forma incremental ou de forma disruptiva. Na primeira, é possível perceber a novidade no produto, com produtos um pouco melhores do que a versão anterior a cada passo evolutivo. Já na segunda forma de evolução não... nessa, muda-se completamente forma de pensar. A evolução acontece no processo (no modo de fazer as coisas) e como resultado, dá origem a produtos incrivelmente melhores ou no mínimo, com um grande salto de qualidade em relação às versões anteriores.

A inovação e o tratamento do AVC

    Os últimos 20 anos no tratamento do Acidente Vascular Cerebral tem sido uma aula de inovação. O primeiro salto disruptivo aconteceu em 1995. Até então, sem nenhum tratamento específico conhecido, a única opção aos pacientes era receber o tratamento de suporte enquanto aguardava o início das sessões das terapias de reabilitação. Nesse ano porém, conseguiu-se “pensar fora da caixa” e pela primeira vez uma medicação foi bem sucedida em desobstruir artérias cerebrais – uma mudança de processo que resultou em milhares de tratamentos e redução de sequelas.

    Com a popularização das terapias de revascularização cerebral desde 1995 foi entendido que tempo é cérebro. Que cada minuto perdido representa a perda de milhares de neurônios e consequentemente mais e mais incapacidade. Portanto, sistemas de atendimento mais ágeis foram desenvolvidos, fluxos de atendimento nas emergências dos hospitais com protocolos inteligentes foram implantados, métricas monitoradas, aplicativos criados e, em alguns países, até ambulância com tomografia foi adotada – tudo isso para entregar o tratamento no menor tempo possível. E assim, com melhorias incrementais, conseguiu-se um produto incrementalmente melhor. Menores tempos até o tratamento e consequentemente, resultados cada vez melhores para os pacientes.

E veio a mudança de novo...

    Mas no primeiro semestre de 2015 veio novamente a mudança de paradigma. A inovação disruptiva aconteceu novamente. O “pensar fora da caixa” dessa vez resultou em uma forma de diferente para selecionar os pacientes que se adequavam ao tratamento. O tempo não era mais o critério absoluto, mas sim o próprio cérebro em sofrimento. Um olhar inovador sobre o antigo exame de tomografia, quando ainda no pronto-socorro, permitiu fazer uma avaliação qualitativa do tecido cerebral em sofrimento e assim incluir pacientes que antes receberiam apenas tratamento de suporte. Um novo pensar, um novo processo. A resultante foi tratamentos que antes só eram realizados até no máximo 4 horas e meia agora também sendo realizados com 6 a 8 horas! Mais pacientes tratados, menos pacientes com incapacidades, num grande salto qualitativo.

Brasil...sil...sil...sil...!!!

    Esse ano, um grupo americano, liderado por um pesquisador brasileiro, o doutor Raul Nogueira, vem trazer mais um passo incremental nesse novo processo. Com o estudo DAWN publicado esse mês na vanguardista e prestigiosa revista New England Journal of Medicine foi possível por meio da avaliação dos sintomas do paciente e da qualidade do tecido cerebral em sofrimento tratar com sucesso pacientes com AVC isquêmico com até 24 horas de evolução! Um feito até então inédito e inimaginável apenas ha alguns anos, quando as decisões eram na sua maioria regidas apenas pela limite temporal imposto pelo relógio.



O futuro

    Apostas nos próximos passos? Possivelmente mais mudanças incrementais levando os tempos de tratamento ao extremo. Mas as mudanças disruptivas estão logo ali no horizonte... talvez neuroprotetores, terapia com céluas tronco, diagnóstico ultra-precoce com auxílio da internet das coisas...

    Uma coisa é certa, tudo vai mudar. Sempre muda.

Autor

Dr. Gabriel Pereira Braga

O Dr. Gabriel Pereira Braga é consultor em Neurologia Vascular do Neurodrops. É graduado em Medicina e fez residência médica em Clínica Médica pela Universidade Estadual de Londrina (UEL). Fez residência em Neurologia e Doutorado pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – UNESP, onde foi Responsável Técnico e Coordenador da Unidade de AVC por 5 anos. Atualmente, é neurologista assistente e responsável pelo Ambulatório de Neurovascular do Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), e atende no AVCCENTER Neurologia. É Membro Titular da Academia Brasileira de Neurologia (ABN), e vice-coordenador do Departamento Científico de Neurossonologia da ABN.

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